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Pesquisador e professor da Bionorte participa de estudo internacional sobre uso de plantas medicinais no tratamento de picadas de serpentes
O professor Paulo Sérgio Bernarde, docente da Universidade Federal do Acre (UFAC) e da Rede Bionorte, participou como co-autor de um relevante artigo científico publicado no periódico internacional Frontiers in Pharmacology. O estudo, intitulado "A comprehensive review on recent advances in the use of ethnomedicinal plants and their metabolites in snake bite treatment", foi realizado em parceria com pesquisadores da Índia e apresenta uma revisão abrangente sobre o uso de plantas medicinais no tratamento de acidentes ofídicos em diversas regiões do mundo.
O estudo investigou como plantas medicinais têm sido utilizadas por diferentes comunidades para neutralizar os efeitos tóxicos do veneno de serpentes, propondo novas perspectivas para pesquisas futuras sobre tratamentos complementares.
A pesquisa contou com a colaboração dos cientistas Ashish Kumar, do Department of Biotechnology, Guru Ghasidas Vishwavidyalaya (Bilaspur, Chhattisgarh), Rameshwari A. Banjara, do Department of Chemistry, Rajeev Gandhi Government Postgraduate College (Ambikapur, Chhattisgarh), Roman Kumar Aneshwari, da School of Pharmacy, MATS University (Raipur, Chhattisgarh) e Junaid Khan, do Department of Pharmacy, Sant Gahira Guru Vishwavidyalaya (Sarguja Ambikapur, Chhattisgarh).
Uma trajetória dedicada às serpentes
Paulo Sérgio Bernarde é professor da UFAC desde 2005, atuando no campus de Cruzeiro do Sul. Sua formação acadêmica é extensa e consolidada: graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), concluiu o Mestrado em Zoologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e obteve o Doutorado em Zoologia na Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro. Desde o início da graduação, em 1991, desenvolveu grande interesse pelo estudo de serpentes, tema que o acompanha ao longo de sua carreira acadêmica e profissional.
O interesse inicial surgiu durante seu trabalho de conclusão de curso (TCC), realizado em 1994, no estado de Rondônia. Naquela ocasião, Bernarde começou a explorar o bioma amazônico, contexto que consolidou sua vocação para estudar os répteis peçonhentos e seus impactos sobre a saúde humana.
O uso de plantas medicinais no tratamento de acidentes ofídicos
O uso de plantas medicinais no tratamento de picadas de serpentes é um tema que desperta interesse entre pesquisadores e comunidades tradicionais, especialmente em regiões com difícil acesso à soroterapia. De acordo com o professor Bernarde, embora a soroterapia seja atualmente o único tratamento comprovadamente eficaz para neutralizar os efeitos do veneno, a utilização de extratos vegetais com princípios farmacológicos pode vir a desempenhar um papel complementar no futuro.
Durante suas pesquisas no Alto Juruá, o professor registrou relatos de moradores que utilizam plantas como forma de primeiros socorros, como o chá de raiz de açaí e o óleo de buriti aplicado sobre a ferida. Apesar disso, Bernarde ressalta que seus estudos focam na coleta de relatos e não na análise dos efeitos terapêuticos desses tratamentos, que ainda carecem de comprovação científica robusta.
Desafios e perspectivas para o uso medicinal de plantas
Os maiores desafios para consolidar o uso de plantas medicinais no tratamento de acidentes ofídicos estão ligados à complexidade dos venenos e à falta de pesquisas aprofundadas que comprovem a eficácia desses métodos. Segundo o professor Bernarde, é essencial desenvolver estudos bioquímicos que identifiquem os compostos ativos com potencial antiveneno e realizar testes pré-clínicos em modelos animais, para, eventualmente, obter resultados aplicáveis na prática clínica.
A revisão publicada aponta que os extratos de plantas medicinais contêm compostos químicos diversos que podem inibir toxinas, mas ainda são necessários avanços significativos para compreender os mecanismos exatos de neutralização. Segundo Bernarde, a compreensão detalhada da estrutura química dos venenos e dos metabólitos vegetais é essencial para o desenvolvimento de tratamentos alternativos seguros e eficazes.
Convivência segura e prevenção de acidentes
Além das perspectivas científicas, Bernarde reforça a importância de medidas preventivas para evitar acidentes ofídicos, especialmente em áreas rurais e florestadas. Utilizar calçados adequados, como botinas e botas, é fundamental, uma vez que 50% dos acidentes ocorrem nos pés e 30% nas pernas. Em caso de picada, a orientação é manter a calma, hidratar-se e procurar imediatamente uma unidade de saúde, já que o soro antiofídico é o único tratamento eficaz, devendo ser administrado exclusivamente em ambiente hospitalar.
Mensagem final
Paulo Sérgio Bernarde reforça que, apesar das práticas tradicionais terem seu valor cultural e histórico, é imprescindível buscar atendimento médico especializado em caso de acidentes ofídicos. "O único tratamento eficaz comprovado é o soro antiofídico prescrito por um médico e administrado em ambiente hospitalar", conclui o pesquisador, destacando que a ciência precisa avançar para que os tratamentos complementares possam ser adotados com segurança e eficácia.
Para mais informações sobre o estudo ou outras pesquisas desenvolvidas pelo professor, é possível entrar em contato pelo telefone (68) 99936-6646 ou e-mail paulo.bernarde@ufac.br.
Rede Bionorte: promovendo pesquisas estratégicas na Amazônia
O trabalho do professor Paulo Bernarde conta com o apoio da Rede Bionorte, que desempenha um papel crucial na integração de pesquisas voltadas à biodiversidade e ao uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia. A Rede Bionorte fomenta iniciativas que conectam universidades e centros de pesquisa da região, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico com foco na valorização dos conhecimentos tradicionais e no aprimoramento de tratamentos que integram a medicina tradicional e a moderna.
Data: 17/03/2025