Nesta última semana de março/2022, um artigo sobre malária intitulado ‘Higher-Dose Primaquine to Prevent Relapse of Plasmodium vivax Malaria’, ou ‘Dose Dobrada de Primaquina para Prevenir as Recaídas da Malária por Plasmodium vivax’, na tradução para o português, foi publicado na prestigiosa revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM), publicação científica semanal da Massachusetts Medical Society [link]. Este artigo relata a comparação entre três esquemas de tratamento. O tratamento com dose dobrada de primaquina (7,0 mg/quilograma) reduziu de forma significativa as recaídas da malária em seis meses.
No continente americano, foram registrados aproximadamente 650.000 casos de malária no ano de 2020, sendo 70% em decorrência do parasito P. vivax. A tríade composta pelo Brasil, Colômbia e Venezuela foi responsável por 77% dos casos de malária no continente em 2020, de acordo com o último relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde). O tratamento recomendado pela OMS para prevenir a recaída da malária por P. vivax em muitos países das Américas é por meio do uso da primaquina na dose total de 3,5 mg/quilograma, apesar de sua eficácia moderada.
Este estudo foi uma colaboração de pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC/SVS/MS) e Secretaria Estadual de Saúde do Acre (SESACRE) no Brasil, e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA, juntamente com parceiros da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e Ministério da Saúde do Brasil.
Os autores constataram que o uso de primaquina administrada na dose total de 7,0 mg/kg obteve maior eficácia terapêutica na prevenção de recaída da malária por P. vivax do que a dosagem atualmente recomendada (3,5 mg/kg). A proporção de pacientes que não apresentou episódios de recaídas no período de seis meses após a infecção inicial subiu para 86% em comparação ao percentual de 59% para aqueles que receberam o tratamento com dose mais baixa de primaquina. Em outras palavras, 27% das infecções de P. vivax nas Américas poderiam ser prevenidas com o esquema terapêutico com dose dobrada de primaquina.
Esses achados contribuem para a fortalecimento da promoção da saúde no combate à malária. Os resultados deste estudo poderão também servir de base para a revisão da política de tratamento para a malária por P. vivax nos países das Américas.
Em outro artigo intitulado ‘Where the Rubber Meets the Road: Research in the Amazon’, ou ‘Onde a borracha encontra a estrada: Pesquisa na Amazônia’ em português, os bastidores do estudo acima são apresentados por duas pesquisadoras brasileiras envolvidas no estudo, e publicado no NEJM Evidence, um novo periódico do grupo NEJM. Este artigo relata o que cientistas e demais profissionais enfrentam quando fazem pesquisa na Amazônia e aborda como as colaborações científicas nacionais e internacionais, como as com o CDC, contribuem para o avanço do conhecimento científico e inovações em saúde pública.
Where the Rubber Meets the Road — Research in the Amazon
Higher-Dose Primaquine to Prevent Relapse of Plasmodium vivax Malaria